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Tauató-pintado Accipiter poliogaster (Temminck,1824)
Ordem: Accipitriformes | Família: Accipitridae | Monotípica


Individuo adulto (fêmea). Foto: Rafael Balestrin

Trata-se de um gavião discreto e arisco, é também um astuto predador de aves, caçando desde pombos até inhambus. Ocorre em quase todo o Brasil, habita florestas, capoeiras, bordas de matas e áreas antropizadas. Devido ao seu comportamento incospícuo, pode facilmente passar despercebido nos inventários ornitológicos. Conhecido também como tauató, gavião-pintado e tanatam-pintado.


Descrição:
É a maior espécie do gênero Accipiter no Brasil, mede de 43-50 cm de comprimento (Del Hoyo et al. 1994), sendo o macho menor. Fêmea adulta apresenta os lados da cabeça e partes superiores preto-acinzentadas, garganta branca, barriga acinzentada e a cauda com três largas faixas cinza, com a ponta branca. No macho adulto, além do menor tamanho em relação a fêmea, possuí as laterais da cabeça e nuca cinza-claro e no alto da cabeça um pouco mais escuro. O jovem é bem diferente, sua plumagem se assemelha a do adulto de gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), um tipo de mimetismo que possivelmente serve para intimidar macacos e outros gaviões que poderiam predar o jovem no ninho.

Espécies similares: Indivíduo adulto e subadulto pode ser confundido com o gavião-bombachinha-grande (Accipiter bicolor) e com o falcão-tanatau (Micrastur mirandollei). Jovem se assemelha ao adulto do gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), diferindo principalmente no pequeno porte, ausência de penacho e tarsos desplumados. Jovem também pode ser confundido com o falcão-relógio (Micrastur semitorquatus).

Dieta e comportamento de caça: Alimenta-se principalmente de aves, desde pombos até inhambus (Boesing et al. 2012, Melnyk et al. 2013). Caça tanto no estrato inferior quanto no superior da floresta, voando de poleiro em poleiro, com pausas para observar a presa, para então mergulhar sobre a vítima. Após a captura, leva a presa em uma das garras (deixando a outra livre para pousar), indo a poleiro preferencial para então comer. Também realiza perseguições em capoeiras e borda de matas.

Lanzer et al. (2009) encontraram um indivíduo morto junto a um pombo (Columbidae), que colidiu com uma vidraça em uma perseguição de caça contra o pombo. Há registros desta espécie caçando juritis Leptotila rufaxilla (Kaminski & Tres 2011) e inhambuguaçu Crypturellus obsoletus (Godoy 2012). Boesing et al. (2012) registraram nove presas levada ao ninho, sendo oito aves e um mamífero, aparentemente um filhote de tatu.

Reprodução: Sua biologia reprodutiva é pouco conhecida. Boesing et al. (2012) descrevem a biologia reprodutiva desta espécie a partir de um ninho encontrado no sul do Brasil. O ninho estava localizado no interior de uma floresta ombrófila mista, construido com ramos em forma de plataforma na parte superior de uma Araucária, a cerca de 18 m de altura. A postura foi de dois ovos, sendo a fêmea responsável pela incubação. Apenas um filhote sobreveu e deixou o ninho 49 dias após o nascimento. O jovem foi alimentado pelos adultos por pelo menos 90 dias após a eclosão. Macho e fêmea defendiam o ninho contra qualquer intruso que se aproximava da área. No ano anterior, o casal e um jovem haviam sido observados na mesma área indicando que a espécie já usava a área como sítio de reprodução.

Distribuição Geográfica: Ocorre da Venezuela e Guianas, Equador, Peru, Bolívia até o norte da Argentina, incluindo grande parte do Brasil (Ferguson-Lees e Christie, 2001). No Brasil, está presente na região amazônica a leste dos rios Negro e Madeira e, localmente, nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul (Sick, 1997).

Em junho de 2008, um imaturo apareceu nas planícies e Finca LA Selva na Costa Rica. Foi o primeiro registro da espécies para a América Central. Depois de alguns meses, o mesmo indivíduo foi localizado na mesma região (Jones & Komar, 2009).

Habitat e comportamento: É pouco conhecido em toda a sua área de ocorrência (Del Hoyo et al. 1994). Habita regiões florestadas, bordas de florestas de galeria até mesmo áreas fragmentadas. Ridgely & Greenfield (2001) relatam que essa espécie pode ocasionalmente pousar em campos abertos ou mesmo nas bordas das florestas. É muito arisco e elusivo, podendo facilmente passar despercebido nos inventários ornitológicos, o que explica o baixo número de registros da espécie. Devido a raridade e ao comportamento incospícuo, é considerado um "rapinante_fantasma".

É também uma ave muito agressiva, no período reprodutivo vocaliza fretenicamente e realiza vários rasantes velozes contra qualquer intruso, inclusive o homem, por vezes até atingindo o mesmo. Boesing et al. (2012) registraram a fêmea atacando e atingindo o gavião-de-cabeça-cinza Leptodon cayanensis que voava próximo ao ninho.

Movimentos: Espécie residente. Hilty & Brown (1986) sugerem que os registros realizados na Colômbia sejam de migrantes vindos de várias regiões do sul do continente. Pouco conhecido quanto às populações residentes e aquelas que, provavelmente, possam migrar (ICMBIO, 2008; Ferguson-Lees & Christie, 2001).

Recentemente a espécie têm sido registrada com maior frequência no estado do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, sendo a maioria dos registros em áreas sob domínio da Floresta Ombrófila Mista ou de vegetação pouco densa com certo grau de pertubação (Lanzer 2009; Lima 2011; Kaminski & Tres 2011; Boesing et al. 2012).

 

:: Página editada por: Willian Menq em Fev/2018. ::


Referências:

Boesing, A. L., W. Menq & L. Anjos (2012) First description of the reproductive biology of the Grey-bellied Hawk (Accipiter poliogaster). The Wilson Journal of Ornithology 124 (4): 767–774.

Del Hoyo, J.; Elliot & A. Sargatal, (1994) J. Hand-book of the birds of the world. v. 2. Barcelona: 
Lynx Edicions.

Godoy, F. I. (2012) Registro do comportamento de predação de Accipiter poliogaster (Accipitriformes: Accipitridae) em Itararé, São Paulo. Atualidades Ornitológicas, 166: 4-5.

Hilty, S.L., & W.L. Brown. (1986). A guide to the birds of Colombia. Princeton University Press, Princeton, NJ.

Kaminski, N.; Tres, D.R. (2011) Primeiro registro documentado do Tauató–pintado (Accipiter poliogaster) para o Estado de Santa Catarina, Brasil Nuestras Aves, 56:31-33.

Lanzer, M., M. A. Villegas, & M. Aurelio-Silva. (2009) Primeiro registro documentado de Accipiter poliogaster (Temminck, 1824) no estado do Parana, sul do Brasil (Falconiformes: Accipitridae). Revista Brasileira de Ornitologia 17:137-138.

Márquez, C., Gast, F., Vanegas, V. & M. Bechard. (2005) Aves Rapaces Diurnas de Colombia. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt. 394 p.

Melnyk, K., Gelis, R. A., Hopkins, W. A., Vaca, F. & Moore, I. T. (2013) Gray-bellied Hawk (Accipiter poliogaster) Observed Feeding on a Tinamou in Yasuni Biosphere Reserve, Ecuador. J. Raptor Res. 47(3):330–332.

Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira.

Site associado: Global Raptor Information Network (em inglês)

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2018) Tauató-pintado (Accipiter poliogaster) - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/accipiter_poliogaster.htm > Acesso em: .



 
 

Distribuição Geográfica:

Status: (DD) Dados desconhecidos

Canto - (gravado por: Willian Menq)
By: Xeno-canto.




Individuo adulto (fêmea).
Irineópolis/SC, Setembro de 2011.
Foto: Willian Menq
 

Individuo jovem.
Ribeirão Grande/SP, Janeiro 2017.
Foto:
Hudson Martins
 

Fêmea alimentando filhotes no ninho. Irineópolis/SC, Setembro de 2012.
Foto:
Andrea Larissa Boesing
 

Indivíduo jovem.
Ribeirão Grande/SP, Agosto 2014.
Foto:
Gustavo Pinto
 

Fêmea adulta próximo ao ninho. Nova Trento/SC, Setembro de 2012.
Foto: Willian Menq
 

Fêmea adulta. São Lourenço
da Serra/SP, Junho de 2015.
Foto:
Rodrigo Y Castro