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Águias brasileiras
Por: Willian Menq | Atualizado em 20 de abril de 2020
 
 


Harpia (Harpia harpyja), uma das mais poderosas águias do mundo. Foto: Willian Menq

As águias, grandes e poderosas, sempre foram admiradas pela sua imponência e pelo voo majestoso. São consideradas símbolos de força, coragem e independência, frequentemente representadas em brasões de famílias nobres, reinos antigos, cidades e bandeiras de países modernos.

O termo "águia" é vulgarmente aplicado as espécies de grande porte da família Accipitridae, geralmente planadoras, de garras bem desenvolvidas e especialistas na captura de vertebrados terrestres ou aquáticos. Existem mais de 70 espécies de águias no planeta, com representantes habitando desde os desertos, savanas, montanhas até as florestas mais densas. As duas espécies mais populares é, sem dúvidas, a águia-americana (Haliaeetus leucocephalus), que ocorre na América do Norte, e a águia-real (Aquila chrysaetos), presente em todo o hemisfério norte. Ambas são amplamente exibidas em filmes, documentários, comerciais, marcas e em qualquer coisa que faça referência ao termo águia.

Existem nove espécies de águias no Brasil, dentre essas destaca-se a harpia (Harpia harpyja), também chamada de gavião-real, considerada a maior e mais poderosa águia do mundo. É uma ave de rapina impressionante, as fêmeas pesam pouco mais de 9 kg, 100 cm de comprimento, e uma envergadura de até 2 metros. Suas garras são maiores que a de um urso-pardo (Ursus arctos), com unhas do hálux de até 7 cm de comprimento. É uma predadora especializada na captura de macacos, bugios e bichos-preguiça, por vezes capturando animais com o peso/tamanho da própria ave. É uma águia florestal muito rara, encontrada na região amazônica e em alguns pequenos trechos de Mata Atlântica.

Mais rara que a harpia é o uiraçu (Morphnus guianensis), também conhecido como gavião-real-falso ou uiraçu-falso. É muito parecido com a harpia, só que menor, mais leve e esbelto. Mesmo assim é muito imponente, com fêmeas atingindo quase 90 cm de comprimento, peso de 2 kg, e envergadura de asas de até 1,60 metros. Apesar da imponência, o uiraçu é a águia mais discreta e menos conhecida das Américas. Vive no interior da floresta e dificilmente voa acima da copa das árvores, no Brasil ocorre principalmente na floresta amazônica, com raríssimos registros na Mata Atlântica. De dieta variada, alimenta-se principalmente de pequenos mamíferos arborícolas, normalmente capturados em seus esconderijos diurnos.


À esquerda, harpia (H. harpyja) fêmea. Candeias do Jamari/RO. Foto: Danilo Mota.
À direita, uiraçu (Morphnus guianensis) Paranaíta/MT. Foto: Christopher Borges.

Outro grupo bastante interessante é o das águias-açores (gênero Spizaetus), denominadas de “Hawk-eagles” em inglês. São águias ágeis e fortes, estritamente florestais, de médio porte, possuidoras de penacho e tarsos emplumados. Possuem asas largas e cauda relativamente comprida, silhueta adaptada para voos rápidos e boa manobrabilidade no interior de florestas. No Brasil o grupo é representado por três espécies: o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), gavião-pato (Spizaetus melanoleucus) e o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus). Embora sejam chamadas de "gaviões" no Brasil (por questões populares ou falta de nominativos), são autênticas águias.

As espécies desse grupo ocorrem em quase todo o Brasil, exceto nas regiões mais áridas do nordeste e nos pampas gaúchos. O gavião-de-penacho é o mais discreto, habita o interior da floresta, raramente planando ou vocalizando. Por outro lado, o gavião-pega-macaco é o mais detectável, vocaliza com bastante frequência, costuma planar sobre a floresta nas horas mais quentes da manhã, por vezes cruzando áreas abertas e borda de matas.

Também são astutas caçadoras, o gavião-pato é mais especializado na captura aves, como papagaios, araçaris e tucanos; o gavião-pega-macaco de pequenos mamíferos, como ratazanas, esquilos, gambás e saguis; enquanto que o gavião-de-penacho tem uma dieta mais variada, alimentando-se desde aves grandes como araras e macucos, até cutias, quatis e iguanas.


À esquerda, gavião-de-penacho (S. ornatus) fêmea. Corguinho/MS. Foto: Willian Menq.
À direita, Gavião-pega-macaco (S. tyrannus) no Panamá. Foto: Laura L Fellows.

No extremo norte do Brasil, ocorre a águia-solitária (Urubitinga solitaria). Essa águia vive apenas nas florestas montanhosas de Roraima (ex. Serra do Apiaú, Serra do Tepequém), em localidades com altitudes que variam de 400 a mais de 2.000 m do nível do mar. É uma ave grande, possuindo de 65 a 75 cm de comprimento, envergadura de 157 a 180 cm e peso de até 3 kg; sua plumagem é de um característico cinza-chumbo quase negro; caça serpentes, lagartos e outros pequenos vertebrados. Devido ao fato de habitar áreas de difícil acesso, é mais fácil encontrá-la em seus voos circulares.

Além das florestas, há duas representantes brasileiras que habitam áreas abertas: a águia-cinzenta (Urubitinga coronata) e a águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus). A águia-cinzenta, mais rara, vive nas savanas, nos campos naturais e rupestres da região centro-oeste, sudeste e sul do Brasil. É a segunda mais possante águia do Brasil, as fêmeas podem pesar até 3 kg, 85 cm de comprimento, com envergadura de até 1,80 metros. Caça principalmente tatus, gambás, roedores, serpentes e aves. Passa a maior parte do dia pousada em cercas, cupinzeiros e buritis, e nas horas mais quentes da manhã costuma planar alto, às vezes junto aos urubus.

Já a águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus), também conhecida como águia-chilena, é mais restrita a ambientes montanhosos e rupestres, onde é frequentemente observada planando. Generalista, caça desde aves, serpentes até pequenos roedores. Possui porte parecido com a da águia-cinzenta, com fêmeas atingindo quase 3 kg, 75 cm de comprimento, e envergadura de até 1,80 metros.

A águia-pescadora (Pandion haliaetus) é uma das poucas aves de rapina migratórias do Brasil. Originária da América do Norte, aparece no país entre os meses de setembro e abril. Nesse período, pode ser encontrada em qualquer região do Brasil, sempre associada a lagos, rios, estuários e áreas costeiras. De porte médio, as fêmeas atingem 2 kg, cerca de 60 cm de comprimento e envergadura de até 1,70 metros. Como o próprio nome diz, é uma especialista na captura de peixes, que são capturados com as garras através de impressionantes mergulhos.


À esquerda, gavião-pato (S. melanoleucus). Porto Maldonado, Peru. Foto: Grace Montalvan,
À direita, águia-pescadora (Pandion haliaetus) na Costa Rica. Foto
: Willian Menq.


À esquerda, águia-cinzenta (U. coronata), Pirenópolis/GO. Foto:Mauro cruz,
À direita, águia-serrana (G. melanoleucus), Lavras do Sul/RS. Foto:
José Paulo Dias.

Infelizmente, devido ao grande porte das espécies e a ignorância das pessoas, as águias são perseguidas e abatidas, principalmente por fazendeiros, que temem ataques contra suas criações domésticas.

As águias, assim como outras aves de rapina, são extremamente importantes no equilíbrio do meio ambiente. Por serem predadoras, exercem uma influência estabilizadora nos ecossistemas, controlando a população de presas, auxiliando na manutenção de altos índices de diversidade. Algumas espécies, como a águia-cinzenta, regulam a população de animais de interesse ao homem, como roedores e serpentes. Outras espécies, como a harpia, possuem grande apelo popular, podendo ser utilizadas em ações de educação ambiental ou como espécies-bandeira em ações conservacionistas.

 

Citação recomendada:

Menq, W. (2020) Águias brasileiras - Aves de Rapina Brasil. Disponível em: < http://www.avesderapinabrasil.com/arquivo/artigos/Aguias_brasileiras.pdf > Acesso em: .


 

 
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